Escola bilíngue para surdos
Há um plano por parte do Ministério da Educação que visa retirar as
escolas bilíngues, tratando da 'inclusão' diretamente nas escolas em
geral, as quais seriam chamadas 'Escolas Inclusivas'. A propaganda é de
que haverá uma contribuição para com os alunos que necessitam de
atendimentos específicos, pois serão realmente inclusos a uma sociedade,
entretanto, não se pode generalizar os casos, ainda mais em se tratando
de necessidades específicas.
Aluno com necessidade específica pode ser qualquer indivíduo que possua
uma dificuldade de aprendizagem ou de acesso à rede de ensino. Pode-se
pensar nas deficiências visuais, motoras, intelectuais, e quando se diz
em intelectual, há uma gama de especificidades e níveis dessas
debilidades, que realmente só podem ser diagnosticadas por médicos.
Outra necessidade que não entraremos no âmbito, mas não pode ser
esquecida, exatamente é a previsão na Lei de Diretrizes e Bases o
trabalho conjunto dos ministérios de Educação e Saúde, principalmente
nas necessidades específicas. Sabe-se que essa parceria não ocorre de
fato.
Todos esses tipos de alunos com deficiência devem ser tratados de uma
maneira diferente. Alunos com baixa visão, por exemplo, necessitam
apenas de letra ampliada e um cuidado maior com provas e materiais
disponibilizados. Não ocorre o mesmo com a comunidade surda, que traz
junto de si toda uma relação de cultura e relação com o mundo distinta.
A pessoa surda é distinta o deficiente auditivo. Este último não é
inserido na cultura surda, normalmente oralizado, e gosta de se
comunicar em português, sendo que na maioria das vezes não tem uma
surdez profunda, e com aparelhos consegue construir uma identidade na
cultura ouvinte. O mesmo não ocorre com a pessoa surda, que não possui
acesso pleno ao mundo ouvinte exatamente por não possuir a audição. Daí
decorre a defesa do contato do surdo com sinalizantes (pessoas que usam
língua de sinais) desde criança, para que possa desenvolver plenamente
uma língua.
A Língua de Sinais é a maneira com a qual o indivíduo surdo torna-se
sujeito da sua comunidade, construindo linguagem e interagindo com as
pessoas ao seu redor, exatamente como uma criança ouvinte faz a partir
da fala de uma língua oral. Privar o surdo do acesso à Língua de Sinais,
implica em prendê-lo a um mundo com o qual ele não interage exatamente
por não ouvir, postergando a relação e o desenvolvimento pleno de uma
língua e do indivíduo. Fechando as escolas bilíngues encaixa-se
exatamente nessa privação, pois em se tratando de surdos nascidos em
famílias ouvintes, as escolas bilíngues tornam-se esse primeiro local de
interação plena para o sujeito surdo, conseguindo utilizar sua língua
de sinais, ver outras variações dessa mesma língua, diversos usos dela
em adequações diferentes.
O fechamento das escolas bilíngues resulta, também, em ignorar as
regulamentações previstas na Lei de Diretrizes e Bases, além de um
retrocesso de uma luta que não tem mais de vinte anos que apenas agora
começa a mostrar seus primeiros frutos. A inclusão nas escolas
não-bilíngues deve ser prevista sim, mas como um segundo momento, em que
o sujeito surdo já tenha podido ter pleno acesso à sua língua, a Libras
no caso do Brasil, e poder aprender como segunda língua o português na
modalidade escrita. Apenas após passado esse processo inicial se é
indicado que o surdo seja 'incluso' nas escolas com ouvintes, sem perder
entretanto, o suporte que tem na escola bilíngue.
Estar atento e consciente das diretrizes que regem nossas instituições
de ensino são um dever a todos nós que somos professores. Não devemos
jamais esquecer de ver essas nuances, e entender que temos a lei para
nos amparar, para lutarmos durante as estruturações dos planos e
parâmetros que direcionam a curto prazo os caminhos das nossas escolas.

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